quinta-feira, 7 de abril de 2011

Logística reversa: lixo eletrônico

Em seu primeiro relatório sobre lixo eletrônico, lançado no ano passado, a ONU (Organização das Nações Unidas) estima que a produção mundial de lixo eletrônica chegue a 40 milhões de toneladas por ano.
Por falta de aferição de dados, a entidade calcula que o Brasil descarte anualmente 96.800 toneladas métricas de computadores, volume só inferior ao produzido pela China.
“Isso significa que cada brasileiro abandona meio quilo de lixo eletrônico por ano”, afirma o diretor de Logística da TGestiona, empresa do Grupo Telefônica, Marcelo José de Sousa.
O executivo diz que, como não há números exatos sobre o País, as análises se dão com base em estimativas. Os itens mais descartados são computadores, impressoras, geladeiras e celulares. “No que se refere aos aparelhos celulares, o Brasil figura como o segundo país que mais descarta esses itens, com o total de 2.200 toneladas por ano – mais uma vez abaixo da China”, diz Sousa.
O professor Paulo Roberto Leite, presidente do CLRB (Conselho de Logística Reversa do Brasil) estima, no entanto, que, na lista de produtos descartados, 40% sejam de eletrodomésticos, índice igual ao da Europa.
No ranking de consumo, o Brasil chamou a atenção por ter superado os países desenvolvidos na compra de eletrônicos pessoais, com destaque para os celulares, segundo pesquisa apresentada pela Accenture, empresa especializada em consultoria de gestão, serviços de tecnologia e outsourcing, durante a maior feira de tecnologia realizada em Las Vegas neste ano.
O fato de os dados relativos ao Brasil não estarem compilados sobre o descarte de lixo eletrônico, de acordo com o presidente do CLRB, deve-se ao comportamento das pessoas. Por serem pequenos, muitas vezes os aparelhos celulares são abandonados nas gavetas. “Tem-se a informação de que, dos 98% de celulares e produtos eletrônicos e seus acessórios – como carregadores e modems – adquiridos, apenas 2% retornam para reciclagem”, comenta o professor.
Descarte correto
É esse baixo índice de retorno que tem chamado a atenção sobre a necessidade de se implantar um programa para orientar sobre o correto descarte do lixo eletrônico.
“Atualmente o lixo eletrônico destina-se a um lugar comum: os aterros sanitários e os lixões. O agravante está no fato de os produtos eletrônicos conterem materiais pesados, químicos altamente prejudiciais para a saúde”, alerta o diretor de Logística da TGestiona.
“Outro alerta da ONU: os países precisam pensar em estratégias para resolver como tratar o lixo”, afirma Sousa, que acrescenta: “No Brasil vemos que algumas empresas estão começando a se preocupar com a questão, como a Vivo, o Pão de Açúcar e a Tetra Pak”, conta o diretor. Ele diz que a TGestiona descartou corretamente 690 mil equipamentos eletrônicos em 2010.
Nova política
O presidente da CLRB acredita que a nova PNRS (Política Nacional de Resíduos Sólidos) criada pelo governo deve mudar a atual situação. “Os consumidores ainda não são exigidos sobre o descarte desses produtos; há pouco comprometimento por parte de todos. Os novos líderes empresariais, que têm maior parcela de atenção sobre a questão da sustentabilidade, porém, estão começando a se preocupar com a logística reversa para preservar a imagem da empresa”, comenta Leite.
O professor informa que no dia 17 deste mês será criado um comitê ministerial que irá ditar as regras para o setor, dando origem ao Comitê Orientador da Logística Reversa, que estabelecerá critérios e metodologias, além de trazer experts para discutir o assunto no País. “A cadeia industrial envia as sugestões sobre a taxa ideal de retorno e passa para o Comitê Orientador avaliar”, explica Leite.
Segundo o presidente do CLRB, no acordo setorial há uma lista de itens a ser seguida para a elaboração de um plano de gerenciamento de logística reversa dos produtos.
“As formas de coletar, armazenar e recolher devem ser equalizadas pela cadeia industrial”, afirma Leite. “Todos têm uma parcela de responsabilidade sobre o destino final dos produtos eletrônicos – desde aquele que produz, vende e distribui até aquele que consome. A cadeia industrial ‘estabelece’ uma condição da qual participa o produtor, o distribuidor, o varejista e o consumidor”.
Os benefícios gerados com os pontos organizados de coletas são vários: “Haverá economia de transporte e um novo mundo de negócios e de oportunidades de trabalho no setor de transporte e de armazenagem”.
O professor afirma que já há setores organizados em torno dessa questão. “O setor de embalagem de agrotóxicos é um deles. Criou seu sistema de logística reversa e já consegue recolher quase a totalidade que vai para o mercado. Esse setor tem mais de 500 postos de coleta no Brasil”, afirma o presidente do CLRB.
Leite explica que a população também deve se comprometer com a logística reversa, inteirando-se da problemática em programas de educação. “A própria indústria terá de indicar ao consumidor o horário e o local para a retirada dos produtos eletrônicos”, afirma o presidente do CLRB.
Para que o sistema funcione na prática, será preciso haver uma rede pulverizada de coleta que permita a eficiência da logística reversa.
O diretor de Logística da TGestiona informa que ainda nada existe de concreto, mas as empresas começaram a analisar programas para incentivar o descarte correto dos produtos quando da aquisição de um aparelho novo.
“As empresas estão investindo em tecnologia e padronizando processos. Iniciamos as operações de logística reversa na TGestiona em 2006, quando trabalhávamos em larga escala, de modo descentralizado, e coletávamos apenas 7 mil equipamentos por mês. Em 2010, criamos a Central de Logística Reversa, com sólidas ferramentas de TI, governança especializada, KPIs específicos para LGR, SLAs desafiadores e alta efetividade de coleta. Já temos mais de 70% de estrutura necessária”, explica Sousa.
Segundo o diretor da TGestiona, estão surgindo empresas interessadas em explorar economicamente cada etapa do processo da logística reversa, desde a coleta, o tratamento e o transporte até a destinação final. “Todas as empresas envolvidas no processo (fabricantes, distribuidores, varejo, operadores logísticos e o governo) devem se unir para encontrarem processos sinérgicos que permitam a redução dos custos operacionais e uma utilização sustentável, como a reciclagem, por exemplo, gerando, assim, receitas adicionais na cadeia produtiva reversa”, conclui.

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